A configuração da sala de aula e o seu impacto na aprendizagem
13 Setembro 2023


A configuração física de uma sala de aula é mais do que uma escolha da escola ou gosto do professor. A disposição das mesas e cadeiras nas salas de aula impacta a aprendizagem, a motivação, a participação dos alunos e as relações professor-aluno e aluno-aluno (Fernandez, Huang & Rinaldo 2011)(a).

Por vezes pode ser impraticável mover as mesas e cadeiras! Num mundo ideal, o mobiliário da sala de aula seria leve e móvel para que o professor pudesse entrar e reorganizá-lo rapidamente consoante o objetivo da aula. Infelizmente, no mundo real, na maioria das vezes é pesado e as próprias salas são pequenas demais para fazer muitas alterações. 

No entanto, vale a pena pensar na configuração da sala de aula e fazer o que puder para torná-la o mais adequada possível à aula, já que este aspeto tem impacto no estabelecimento de um clima positivo na turma e um ambiente onde os alunos estejam preparados para aprender, pois influencia a forma como os alunos interagem uns com os outros ao longo do dia.

Ao decidir como organizar a sala de aula, o professor deve pensar quais os objetivos que pretende alcançar:

  • incentivar mais a colaboração dos alunos;
  • apoiar a gestão da sala de aula, minimizando a distração dos alunos e o diálogo entre eles;
  • permitir que todos os alunos vejam facilmente o quadro ou façam a transição de um tema para outro com mais facilidade.

 

O professor pode maximizar o envolvimento dos alunos alterando a configuração física de cadeiras, mesas e apresentações na sala de aula. A investigação sugere que a disposição da sala pode impactar a forma como os professores se comunicam com os alunos e como os alunos interagem entre si, impactando o envolvimento, a motivação e o foco.

Pesquisas recentes sugerem que a configuração do espaço da sala de aula molda a pedagogia do professor, a escolha das atividades e o comportamento dos alunos na realização das tarefas. Por exemplo, uma sala de aula com mesas e cadeiras fixas e direcionadas para o quadro à frente da sala faz com que os alunos demonstrem um menor envolvimento nas aulas. Outros estudos demonstram que os estudantes preferem uma organização mais flexível. Em particular, os alunos manifestam preferência por salas de aula com cadeiras móveis versus fixas, e mesas trapezoidais com cadeiras com rodas versus mesas retangulares com cadeiras imóveis. (Harvey e Kenyon, 2013)(b).

Em geral, espaços concebidos de forma centrada no aluno, com foco na construção do conhecimento e na colaboração do aluno, podem apoiar a aprendizagem dos alunos (Rands e Gansemer-Topf, 2017) (c ).

 Partilhamos algumas ideias de configuração de sala de aula que farão com que alunos de todas as idades se sintam mais envolvidos e participativos nas aulas.








Filas tradicionais

A configuração tradicional normalmente consiste em filas de mesas e cadeiras fixas. Os alunos ficam de frente para o professor, de costas para os colegas de trás.

Muitas escolas ainda utilizam filas tradicionais, já que é possível acomodar muitos alunos num espaço pequeno. Por outro lado, minimiza a comunicação aluno-aluno. As maiores interações de comunicação entre professores e alunos normalmente ocorrem com os alunos na primeira fila ou no meio da sala de aula. Os alunos nas últimas filas têm menor probabilidade de se envolverem.

Nesta configuração de sala de aula tradicional, e quando não consegue alterar a disposição, o professor pode, no entanto, maximizar o envolvimento dos alunos implementando atividades de aprendizagem ativas que conduzam aos alunos a trabalhar em pares. O professor pode também incentivar grupos de alunos a trabalharem em outros espaços da sala de aula ou mesmo no exterior, conforme necessário (por exemplo, nos degraus, no pátio, à frente da sala, etc.). Sabemos, no entanto, que estas alternativas nem sempre são bem aceites por alguns professores e escolas, pelo barulho que acarreta e por implicar uma maior flexibilidade e disponibilidade por parte dos adultos.


 



Ferradura, em U ou semicírculo

Esta organização é ótima pois todos os alunos poderão ver o professor, o quadro e uns aos outros. Incentiva a discussão entre os alunos e com o professor.

Se a turma for muito grande, o professor pode obter um efeito semelhante colocando uma ferradura dentro da outra e usando filas duplas. Esta alternativa é mais limitada pelo facto de os alunos do círculo interno ficarem de costas voltadas para os alunos do círculo externo. No entanto, os alunos também podem interagir mais facilmente com as pessoas mais próximas ou virar-se e colaborar com os alunos atrás deles para trabalho em grupo.

 Nesta configuração, o professor consegue movimentar-se facilmente pela sala. A ideia deste tipo de configuração de sala de aula é estimular a discussão entre os alunos e o professor. Favorece o sentido de comunidade e de grupo, permitindo que todas as vozes sejam ouvidas e até incentiva os alunos a saírem das suas zonas de conforto. Esta organização contribui para fortalecer relacionamentos, facilitar conversas significativas e lembrar aos alunos que cada voz é importante, promovendo uma maior autoconfiança.




Cadeiras em círculo

Uma possibilidade para conseguir a configuração em círculo é encostar as mesas às paredes e deixar apenas as cadeiras em círculo. O professor pode sentar-se no círculo com os seus alunos. Se precisarem escrever em determinados momentos da aula, podem ir trabalhar nas mesas ou podem apoiar uma pasta sobre os joelhos e permanecer no círculo. A organização em círculo é ótima para muitas atividades e dinâmicas, discussões em grupo, para a receção dos alunos no início da aula ou para os momentos de diálogo.

Uma alternativa é formar uma única mesa grande, constituída por várias mesas pequenas juntas, em que os alunos e professor se sentam à volta da grande mesa.

Esta disposição leva a que professores e alunos se envolvam em atividades de aprendizagem mais ativas, resultando em melhores resultados académicos(Brooks 2012) (d).



Ilhas

 As ilhas são uma configuração de sala de aula já muito utilizadas em várias escolas e que envolvem agrupar três a cinco carteiras de alunos para incentivar a colaboração em pequenos grupos.

Esta forma de organização é ótima para trabalhos em pequenos grupos e projetos. Promove, também, uma comunidade de aprendizagem onde se espera que os alunos trabalhem uns com os outros. É claro que isso pode vir acompanhado de conversas paralelas – portanto, é importante estabelecer regras básicas desde o início, recorrendo por exemplo, aos acordos partilhados e à carta de compromisso que todos devem subscrever.

O professor pode movimentar-se pela sala de aula quando precisar dar instruções ou mudar de atividade.

Muitos professores defendem esta configuração pois permite que os alunos possam ter discussões frequentes durante as aulas, sem ter que se mover ou virar. Quando os alunos estão em grupos, é mais fácil convidá-los a pensar, partilhar em pares, ensinar os colegas. Segundo muitos estudos, o nível de envolvimento aumenta quando damos às crianças tempo para conversar e processar com os membros de um grupo.

 


Formas e designs divertidos

Alguns professores gostam de organizar as mesas em formas básicas e até mesmo em arranjos criativos, de acordo com o tema a abordar na aula. Por exemplo, para trabalhar a amizade, colocam as mesas em forma de coração. Isso estabelece uma comunidade criativa que é capaz de ver a imagem do todo e processar que cada indivíduo é importante para o objetivo final.


Os professores acreditam que estas formas não tradicionais promovem o sentido de comunidade, incentivam os alunos a serem mais criativos, a desenvolver o pensamento e a divertirem-se mais na escola.



Assentos flexíveis

Com assentos flexíveis, as configurações tradicionais são substituídas por assentos que permitem aos alunos sentar-se onde quiserem. Por exemplo, se o espaço da sala de aula ou o orçamento permitirem, há uma variedade de opções como sofás, puffs, tapetes, etc.

Esta configuração reconhece que diferentes alunos podem precisar de algo diferente, como por exemplo, ficar de pé na mesa ou sentar no tapete num dos lados da sala.

É claro que esta organização não será adequada para todos os professores, nem para todos os alunos. Há certamente alunos que preferem ter uma mesa fixa, que permite saber qual o seu lugar e onde podem sentar-se de forma consistente no dia-a-dia.

Alguns professores recomendam ter uma “base” para cada aluno e oferecer opções flexíveis de assentos ao redor da sala e que os alunos possam usar quando quiserem. Os professores acreditam que esta abordagem pode aumentar o foco, o conforto, a colaboração e o entusiasmo do aluno.

 





É importante pensar na organização da sala de aula como um aspeto que pode influenciar as aprendizagens e o envolvimento dos alunos.


Os estudos sugerem a importância de considerar tanto a natureza da tarefa como as características individuais das crianças e o comportamento desejado, antes de decidir sobre a disposição da sala de aula. Geralmente, os professores que desejam maximizar o foco na tarefa durante o trabalho independente devem considerar utilização de filas em vez de grupos como disposição principal da sala e a possibilidade de mudança das carteiras para facilitar a interação quando for necessário. Por outro lado, quando o comportamento desejado é interativo, como os debates, as discussões em grupo ou a apresentação de um tema, então as configurações com mesas agrupadas ou semicírculos, podem ser as mais eficazes.

Sugerimos, assim, que os professores experimentem o maior número possível de configurações de sala de aula para ver como se sentem e qual o mais adequado aos objetivos de aprendizagem. Se não podem mudar a forma como as salas de aula são organizadas, então devem investir algum tempo a pensar em formas de variar onde os alunos se sentam e onde o professor se posiciona na sala, de forma a ir ao encontro das necessidades dos alunos e às diferentes metas propostas.

A dinâmica da sala de aula pode melhorar drasticamente quando se muda a configuração da sala!

 

Atreva-se a mudar e a fazer a diferença!

Um excelente ano letivo!

 

Referências:

  • (a) Fernandez, AC, Huang, J, and Rinaldo, V. (2011). Does Where a Student Sits Really Matter?–The Impact on Seating Locations on Student Classroom Learning. International Journal of Applied Educational Studies, 10.
  • (b) - Harvey EJ, Kenyon MC. (2013). Classroom Seating Considerations for 21st Century Students and Faculty. Journal of Learning Spaces, 2(1).).
  • (c) - Rands ML and Gansemer-Topf AN. (2017). The Room Itself is Active: How Classroom Design Impacts Student Engagement. Journal of Learning Spaces, 6(1).).
  • (d) )- Brooks, D. Christopher (2012). Space and Consequences: The Impact of Different Formal Learning Spaces on Instructor and Student Behavior. Journal of Learning Spaces, 1(2).).

 

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