Quando a resposta certa não é suficiente
27 Maio 2023

A educação não é a aprendizagem de muitos factos mas o treino da mente para pensar (Albert Einstein).

 

Hoje em dia sabemos que, mais do que as competências técnicas, as habilidades socias e emocionais são fundamentais para o sucesso. Fala-se muito das soft skills, do facto dos empregos estarem a mudar e de grande parte das profissões que conhecemos atualmente acabar por desaparecer ou transformar-se no futuro, sendo cada vez mais urgente preparar os nossos alunos para estas mudanças, ensinando acima de tudo a pensar.

No entanto, e apesar de a maioria dos professores e das escolas defender isto, o que vemos na prática é muitas vezes o contrário. Os alunos preocupam-se demasiado a encontrar a resposta certa às perguntas colocadas, porque durante toda a vida escolar é isso que é reforçado e valorizado… apenas resposta certa! Uma resposta que eles deviam saber “se tivessem estado atentos”, “se tivessem estudado o suficiente”… uma resposta certa que vai fazer com que recebam um rápido “Muito bom” ou na melhor das hipóteses um “parabéns”, ou, pelo contrário, uma resposta que lhes dará um enorme X vermelho, caso não seja a “escolha certa”.


Este “tudo ou nada”, “certo ou errado” gera, em muitos alunos, um medo enorme que se pode tornar paralisante. Muitas vezes é esta clivagem que faz com que os alunos avaliem de forma negativa a sua experiência escolar.

Os alunos já vão para a aula ou para o teste a pensar que não conseguem, que não vão acertar a resposta e, mesmo que tenham estudado, isso nem sempre se reflete nos resultados, pois não era “aquela” resposta certa.




Crescemos a pensar e a acreditar que o nosso valor está diretamente relacionado com os resultados, com a quantidade de respostas certas que damos ao longo da vida… e quando não acertamos, então é sinal de que não temos valor.

Será possível mudar esta mentalidade? Será que conseguimos ajudar os alunos a não ter medo de tentar e ultrapassar este medo de errar?





Por vezes, basta uma ligeira mudança na forma como fazemos as perguntas, para encorajar os alunos a pensar criativamente e a colocar as suas próprias questões, olhando para o todo e não apenas para uma “resposta certa”.

Colocar questões abertas permite que os alunos aprendam a pensar mais profundamente e a não ter medo de tentar e errar, dando a oportunidade de valorizar todo o processo e não apenas o resultado.

Por exemplo, as perguntas de escolha múltipla condicionam, muitas vezes, o pensamento do aluno, levam-no a procurar apenas a resposta certa, à espera das ambiguidades, das “rasteiras” inerentes a este tipo de questões. Se as escolhas forem demasiado extensas e elaboradas, o aluno fica logo bloqueado e vai apenas à procura daquela que lhe parece mais adequada e, por vezes, é mesmo uma questão de perspetiva ou de interpretação e não tanto de conhecimento… se forem muito óbvias, o aluno fica preso ao pensamento “hmmm… deve ser uma rasteira… não pode ser assim tão fácil” e fica ali a tentar encontrar a vírgula, a palavrinha que pode fazer a diferença e fazê-lo tropeçar na resposta.




Com estas perguntas fechadas, o que promovemos é a capacidade de memorizar, jogar e receber recompensas, mas não ensinamos a pensar.

Por exemplo: Em vez de fazer uma pergunta fechada e que, certamente, levará a muitas dúvidas e a grande stress e medo de errar, pode ser interessante fazer a pergunta de outra forma, deixando a resposta em aberto, para que ao aluno possa responder de uma forma mais crítica sobre o problema, sem medo de responder.

Perguntar o que vê na imagem, pedir aos alunos que sejam eles a fazer o esquema sobre a matéria, que identifiquem e expliquem determinado tema, promovendo a capacidade de resolver problemas com curiosidade e criatividade.

Promover espaço para que os alunos ensinem aos outros aquilo que aprenderam, é outra das formas de promover uma aprendizagem com melhores resultados.

Permitir a participação dos alunos na elaboração das avaliações. Os alunos provavelmente encontrarão perguntas mais difíceis do que o professor e irão adorar a ideia de serem eles a fazer os seus testes, ao mesmo tempo que também estudam, reveem a matéria e treinam habilidades durante o processo de desenvolvimento das avaliações. Ao estarem altamente envolvidos nesta atividade, isso vai afetar diretamente a sua capacidade de reter informação sobre a matéria em causa.





O ensino deve evoluir à medida que a sociedade e o mundo mudam. Os professores devem criar oportunidades e espaços para que os alunos desenvolvam a sua própria aprendizagem. Quando os alunos estão explicitamente envolvidos no processo de aprendizagem, eles aprendem de forma mais eficaz e, no futuro, lembram-se da experiência.


Queremos que os alunos sejam capazes de refletir e analisar as situações, sem medo de pensar de uma forma diferente. Que consigam adaptar-se facilmente às novas realidades, cada vez mais complexas e que não se limitam ao “certo ou errado”.

Seremos capazes de levar a cabo esta mudança e tornar a escola um lugar verdadeiramente transformador e promotor de adultos mais capazes de enfrentar os desafios do futuro?



As crianças devem ser ensinadas a pensar e não O que pensar! (Margaret Mead)


(Tânia)

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