Recomeços e regresso à rotina
04 Setembro 2025
O papel da aprendizagem socioemocional
"Cada recomeço traz consigo a possibilidade de nos reinventarmos e de crescermos um pouco mais" (Universo das Emoções)


Setembro traz consigo o cheiro a livros novos, mochilas prontas e o entusiasmo (misturado com alguma ansiedade) do regresso às aulas. O início da escola e a volta à rotina, após as férias, é um dos momentos mais desafiantes para crianças, jovens e famílias. É tempo de recomeços — de reencontros, de novas aprendizagens e de adaptação a mudanças. Mas é também um período em que as emoções se intensificam e em que a aprendizagem socioemocional pode ser a chave para um regresso mais positivo e equilibrado.

O cérebro humano adora a previsibilidade. Durante as férias, as rotinas tornam-se mais flexíveis e as exigências diminuem. O regresso à escola implica reorganizar horários, voltar a lidar com responsabilidades, gerir expectativas académicas e sociais. Para muitas crianças, isto desperta ansiedade, medo de falhar ou receio de não se integrar no grupo de colegas.

Os estudos mostram que as transições — como o regresso às aulas — são períodos de maior vulnerabilidade emocional, e que a capacidade de adaptação a novas rotinas depende, em grande parte, da regulação emocional e das competências sociais desenvolvidas ao longo do tempo (Jones et al., 2015).

 

O papel da aprendizagem socioemocional

A aprendizagem socioemocional refere-se ao processo através do qual crianças e jovens desenvolvem competências para compreender e gerir emoções, estabelecer relações positivas, tomar decisões responsáveis e lidar de forma saudável com desafios.

Segundo CASEL, estas competências não só melhoram o bem-estar, como também estão diretamente ligadas a melhores resultados escolares e a um clima mais positivo dentro e fora da sala de aula.

No regresso à rotina, a aprendizagem socioemocional torna-se particularmente importante porque:

  • Ajuda a lidar com a ansiedade — técnicas de respiração, pensamento positivo e autocompaixão reduzem os níveis de stress.
  • Favorece a adaptação — crianças com maior flexibilidade emocional enfrentam melhor as mudanças.
  • Promove relações saudáveis — a empatia e a comunicação facilitam a integração em novos grupos e turmas.
  • Aumenta a motivação — aprender a definir objetivos e acreditar nas próprias capacidades estimula o gosto pela aprendizagem.

 




O papel das famílias e das escolas

O desenvolvimento socioemocional é uma competência de vida que precisa de ser cultivada diariamente. No regresso à rotina, tanto em casa como na escola, alguns gestos simples podem ajudar a criar uma transição mais suave e positiva.

Em casa, as famílias podem:

  • Criar rotinas claras e consistentes - Horários previsíveis para acordar, fazer trabalhos de casa e dormir ajudam as crianças a sentirem-se seguras e a reduzir a ansiedade.

    • Ex: Ter um quadro ou calendário visível com os horários ajuda a criança a antecipar o que vem a seguir.

 

  • Dar espaço para falar sobre emoções - Em vez de perguntar apenas “Como correu a escola?”, experimentar perguntas mais abertas e simples, como “O que te deixou mais feliz hoje?” ou “O que foi mais difícil?” - ensinam as crianças a reconhecer e nomear sentimentos, reforçando a consciência emocional.

 

  • Modelar estratégias de autorregulação - Quando os adultos mostram como respiram fundo antes de responder numa situação de stress, ou como organizam o dia para não se sobrecarregarem, estão a ensinar competências práticas de gestão emocional. Por exemplo, antes de responder numa situação de stress, dizer em voz alta: “Vou respirar fundo três vezes antes de decidir o que fazer.”

 

  • Valorizar o esforço e não apenas o resultado -  Frases como “Gostei de ver o esforço que colocaste nesse trabalho” ajudam a desenvolver uma mentalidade de crescimento, onde os erros são vistos como oportunidades de aprendizagem.

 

  • Promover momentos de conexão em família - Atividades simples como cozinhar juntos, ler uma história ou passear ao ar livre fortalecem o vínculo emocional e criam um espaço seguro para partilha. Por exemplo, criar um ritual de fim de dia: partilhar “três coisas boas” antes de dormir; ou fazer uma “pausa família”: desligar ecrãs durante 20 minutos para jogar, conversar ou passear.








Na escola, educadores e professores podem:

  • Começar o dia com rituais de acolhimento - Cumprimentar cada aluno pelo nome, perguntar como se sente ou iniciar com uma pequena dinâmica de grupo promove o sentimento de pertença e reduz a ansiedade matinal.

 

  • Incorporar práticas de atenção plena e respiração - Breves exercícios de respiração ou relaxamento antes de testes ou no início da aula ajudam a aumentar a concentração e a diminuir o stress.

 

  • Valorizar a cooperação em vez da competição - Trabalhos de grupo e projetos colaborativos incentivam a empatia, o respeito e a escuta ativa.

 

  • Criar um clima emocional positivo - Reconhecer conquistas, dar feedback construtivo e oferecer espaço para o erro cria um ambiente seguro, onde os alunos se sentem motivados a aprender. Substituir críticas por perguntas de reflexão: “O que achas que poderias fazer de diferente?”

 

  • Trabalhar intencionalmente a aprendizagem socioemocional - Através de programas, atividades e recursos específicos (como jogos de emoções, cartas de respiração ou dinâmicas de grupo), é possível ensinar de forma explícita competências como empatia, autorregulação e tomada de decisão responsável.





Recomeços como oportunidades

Os recomeços nunca são apenas uma questão de logística e rotinas — são, sobretudo, emocionais. O regresso à escola não se resume a horários e cadernos novos: envolve medos, expectativas, entusiasmo e incertezas. É nesse turbilhão que a aprendizagem socioemocional ganha força, oferecendo ferramentas para que crianças e jovens aprendam a confiar em si, a relacionar-se melhor com os outros e a enfrentar desafios com resiliência.

Se olharmos para o regresso à escola não apensas como um fator de stress, mas como uma oportunidade de crescer e aprender, estaremos a mudar o foco das dificuldades para as possibilidades. A aprendizagem socioemocional é o fio condutor que permite transformar este momento de transição num espaço de crescimento, resiliência e bem-estar — para as crianças, jovens e também para os adultos que os acompanham.

Famílias e escolas, quando trabalham em conjunto, tornam-se guias essenciais neste processo. Pequenos gestos de acolhimento, rotinas consistentes e espaço para falar sobre emoções criam uma base sólida de segurança e confiança.

Em última análise, preparar os mais novos para lidar com os recomeços é prepará-los para a vida — porque, afinal, a vida é feita de ciclos, e em cada início reside a possibilidade de crescer.







Referências

Jones, S. M., Greenberg, M., & Crowley, M. (2015). Early Social-Emotional Functioning and Public Health: The Relationship Between Kindergarten Social Competence and Future Wellness. American Journal of Public Health, 105(11), 2283–2290.

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